A eleição e os dois brasis
- Luiz Carlos Hauly
- 17 de out. de 2006
- 3 min de leitura

Imagem: Agência Câmara
O primeiro turno da eleição demonstrou claramente a divisão entre os eleitores de Geraldo Alckmin e Lula: o Brasil que financia o governo central – as regiões sul, centro-oeste e parte da sudeste - votou em peso no primeiro candidato, enquanto o Brasil que é financiado pelo governo central – norte e nordeste – optou pela continuidade do regime.
À divisão geográfica e social soma-se também a distância cultural, e o consequente acesso à informação, entre os dois brasis. O Brasil que deseja mais quatro anos de mandato para Lula é predominantemente aquele que teve acesso, se teve, a informações fragmentadas sobre a sucessão de escândalos protagonizados pelos “meninos” do presidente.
É este também o Brasil dos milhões de miseráveis que dependem da ajuda federal para ter acesso às condições mínimas de sobrevivência. O Bolsa-Família é imprescindível para eles.
O Brasil que sustenta o governo federal é formado pelo contingente de empresários, profissionais liberais e operários especializados que, graças à formação cultural, tiveram amplo acesso às informações sobre o modus operandi dos “aloprados” e “traidores”, segundo Lula, ou da “sofisticada organização criminosa” que se instalou na cúpula do poder, de acordo com o procurador-geral da República.
Modus operandi que veio à tona com Waldomiro Diniz e, de crime em crime, de mensalão a quebra ilegal de sigilo bancário, para ficar apenas nos mais estrepitosos, espocou na compra, por R$ 1,75 milhão, de um dossiê falsificado que visava comprometer o desempenho eleitoral de Alckmin.
A cadeia criminosa operada pelo PT em âmbito federal causa profunda repugnância ao Brasil bem informado, e isso explica a rejeição do petista e o amplo favoritismo de Alckmin. Acrescente-se a isso o crescimento pífio do Produto Interno Bruto e seu reflexo sobre a indústria e o comércio e o achatamento do poder aquisitivo da classe média e temos, neste segmento, um quadro consolidado para o tucano e de difícil, senão impossível, reversão para o petista.
A falta de informação sobre a imoralidade que pautou o comportamento do governo petista e a dependência a um programa assistencialista vital das camadas mais pobres da população proporcionam um campo fértil para a sedimentação dos votos de Lula e para sua propaganda, que apela sem escrúpulos para o terrorismo eleitoral.
Terrorismo ao qual recorrem, além de caciques e “intelectuais” do PT, o próprio presidente-candidato, ao acusar mentirosamente seu adversário de pretender extinguir o Bolsa-Família e privatizar o que resta das empresas estatais, entre elas o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os Correios e a Petrobrás.
Uma eventual vitória de Lula aumentará ainda mais a divisão dos dois brasis, já que o presidente-candidato fundamenta sua política social na visão distorcida do assistencialismo, que, no formato que lhe deu o petismo, exclui a contrapartida de ascensão econômica e cultural dos seus beneficiários. Assim, Lula não poderá abandonar jamais o assistencialismo para não ser abandonado pelos que hoje sustentam o seu projeto político, que, naturalmente, prevê a continuidade do PT no poder além de 2010.
A vitória de Alckmin, por sua vez, possibilitará, como consta de seu plano de governo, que os investimentos sociais, além de ampliados, sejam reforçados com programas de capacitação profissional em larga escala, o que inclui necessariamente o incentivo à educação. Em médio prazo, esta ação tirará da miséria um enorme contingente de famílias, contribuindo para estreitar o fosso social entre os dois brasis.
No campo político, Alckmin acena com um conjunto de ações que aproximem os dois brasis, por meio de investimentos em infraestrutura, redução da carga tributária e aperfeiçoamento da máquina administrativa. Seu histórico no governo do Estado mais rico na Nação endossa suas propostas.
No próximo dia 29, teremos a oportunidade de escolher, com consequências sobre as próximas gerações, entre o que quer unir e o que quer manter separados, para proveito político próprio e de seu grupo, os dois brasis.
LUIZ CARLOS HAULY é membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara dos Deputados.
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