A sombra do impeachment
- Luiz Carlos Hauly
- 6 de ago. de 2005
- 3 min de leitura
LUIZ CARLOS HAULY
É compreensível que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha se curvado à angústia – quando não à exasperação – neste momento em que o seu governo, à semelhança de um navio avariado, está seriamente ameaçado de naufragar sob o peso inclemente, e crescente, das denúncias de corrupção. Denúncias que envolvem o até há pouco ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e a cúpula do partido governante, o PT.
As denúncias são sobejamente conhecidas. A CPI dos Correios e as demais instâncias da Câmara que as investigam têm conseguido – para desespero do Planalto e seu titular, o presidente – aprofundá-las a cada depoimento, e a cada depoimento demonstrar, por meio de evidências estarrecedoras, a extensa e complexa teia de corrupção instalada no coração do poder máximo da República.
É mais do que compreensível, portanto, que essa onda a cada dia mais avassaladora de denúncias – um verdadeiro tsunami de lama –, reforçada por indícios igualmente avassaladores, esteja afetando psicologicamente o presidente Lula.
Nada mais nefasto para a auto-estima de um chefe de Estado como ele, eleito por se fazer representante da ética na vida pública, do que ser comparado ao ex-presidente Fernando Collor, apeado do poder por ter se deixado contaminar pela corrupção.
No entanto, o que está sendo denunciado nesses dias – e, repetimos, com base em evidências cada vez mais sólidas -, ofusca definitivamente os atos de corrupção do governo Collor. Para quem tem uma biografia a preservar, como tem reiterado o presidente, nada pode ser mais aterrador.
Justifica-se, assim, a perplexidade – com todas as sequelas psicológicas provocadas por estado de ânimo – do presidente Lula nesses dias sombrios do seu governo. Afinal, cada ato dele, dos integrantes de sua equipe e, por extensão, da direção do partido governante pode ser decisivo. Porque já não está mais em jogo o projeto-mor (existe outro?) de Lula e do PT, que é a reeleição. O que está em jogo – e quem poderia prever isso apenas um mês atrás? – é a própria permanência do presidente no cargo até o final do seu mandato. A sombra do impeachment paira sobre ele.
Esse quadro sombrio não justifica, porém, as seguidas bravatas do presidente em relação às denúncias. Seu discurso em 21 de junho, em Luziânia (GO), na abertura do 1º Congresso da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar, além de provocar perplexidade em quem analisou suas palavras, dá vez ao temor de que o presidente não está tendo o necessário equilíbrio mental para enfrentar a enorme e crescente crise que afeta seu governo e o futuro político tanto dele quanto do seu partido.
Algumas de suas frases:
1. “Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito neste país”.
2. Vocês nunca vão me ver nervoso, fazendo bravata. Não é esse o meu papel, eu já fiz muita. Agora sou presidente da República”.
3. Vocês pensam que eles não ficam incomodados porque eu estou aqui sem gravata?
4. Eu sou a negação do ritual histórico que foi criado neste país.
5. Porque os que torciam para que fosse um desastre, o governo, já estão com medo hoje da reeleição.
Essas frases, apenas alguns entre tantos disparates lançados pelo presidente, levam à conclusão de que ele não está entendendo nada. Ou fazendo de conta que não está entendendo. Infelizmente, já ouvimos palavras semelhantes num passado que nos entristece...
LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados
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