As sete pragas do campo
- Luiz Carlos Hauly
- 18 de mai. de 2006
- 3 min de leitura

O mais dinâmico setor da economia brasileira, o agronegócio, tem sido severamente atingido por uma conjunção de fatores negativos nos últimos dois anos e requer, para sua sobrevivência, a intervenção urgente – e ampla – do governo federal. A manifestação de agricultores em nove estados no dia 16 teve apoio maciço dos demais setores produtivos, dos governos estaduais e municipais, do comércio e da sociedade civil. Essa solidariedade foi motivada não apenas por motivos afetivos, mas de ordem prática, sem que isso a desmereça – todos estamos sentindo os efeitos da crise do campo. Os governos arrecadam menos, o comércio e a indústria vendem menos. A economia tropeça, cambaleia. Pressionado pelas manifestações e pela presença de um batalhão de governadores no Palácio do Planalto, o presidente Lula deu, finalmente, demonstrações de compreender a gravidade da crise e, para atenuá-la – e se possível revertê-la -, autorizou uma série de medidas para socorrer o homem do campo. Essas medidas devem ser anunciadas dia 25, promete o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, e deverão ir além do mero – embora importantíssimo, vital para a grande maioria dos produtores rurais – refinanciamento de suas dívidas. Deverão ser “estruturantes”, disse o ministro. Entenda-se o que se quiser por “estruturantes”, espera-se que, antes tarde do que nunca, o governo, enfim, delineie uma política agrícola – o que inexistiu nesses três anos e meio de governo Lula. O castigo ao homem do campo faz lembrar as bíblicas sete pragas do Egito: câmbio defasado, insumos caros, preços baixos, seca, juros exorbitantes, aftosa e, por fim, a gripe aviária, que fez cair bruscamente nossas exportações de frango. A queda brutal da renda do produtor rural levou-o a se descapitalizar para quitar parcialmente suas dívidas, mas o esforço tem sido em vão. A Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) afirma, categoricamente, que o produtor não tem como pagar o que deve – nem a dívida antiga, refinanciada nos anos 90 pelo programa de securitização, muito menos a nova, contraída para custear o plantio – esta em curto prazo, em muitos casos já vencida. A dívida acumulada nos últimos dois anos, anos dolorosamente perversos, chega a R$ 12 milhões, calcula a Ocepar. A retração da renda da agricultura, informa a Ocepar, chega a 324% nos últimos 10 anos em relação ao trigo, 224% ao milho e 111% à soja. Nesse período, o rendimento de uma saca de soja caiu de R$ 11,82 para R$ 1,34 negativo, de trigo R$ 3,04 negativos para R$ 12,91 negativos e de milho de R$ 2,48 para um prejuízo de R$ 3,07. O produtor está pagando muito caro para plantar – com as honrosas exceções das culturas de café, cana-de-açúcar e laranja. O prejuízo do homem do campo é compartilhado pelo restante do país, quer queiramos ou não. O agronegócio, representado por toda a cadeia produtiva da agropecuária, deixou de movimentar R$ 31,26 bilhões no ano passado, pois faturou 4,65% menos que em 2004. As exportações do agronegócio, embora tenham crescido 11,7% em 2005 sobre 2004, passando de US$ 39,02 bilhões para R$ 43,6 bilhões, perderam espaço no conjunto do PIB, recuando de 40,4% em 2004 para 35,9% em 2005. As reivindicações do agronegócio precisam ser atendidas, e urgentemente. Do contrário, as sete pragas do campo poderão se alastrar irreversivelmente por toda a economia. LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
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