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Entre o dizer e o fazer...

  • Foto do escritor: Luiz Carlos Hauly
    Luiz Carlos Hauly
  • 6 de mar. de 2006
  • 2 min de leitura

LUIZ CARLOS HAULY


O presidente Lula hospedou neste primeiro final de semana de março, na Granja do Torto – sua residência oficial enquanto espera o fim das amplas reformas no Palácio da Alvorada -, o presidente de Itaipu e seu amigo Jorge Samek.


É inadmissível imaginar que Samek não tenha comentado com seu superior o conteúdo da escabrosa denúncia feita no mesmo final de semana pela revista “Veja”.


E o que denunciou Veja? Que Samek, em troca do perdão de uma multa de estratosféricos US$ 200 milhões imposta à prestadora de serviços Voith Siemens embolsou US$ 6 milhões. A denúncia é de extrema gravidade e se soma a outras, entre elas uma feita por mim junto ao Tribunal Superior Eleitoral relativa aos R$ 10 milhões gastos em publicidade pela hidrelétrica em 2004, ano que coincidiu com as eleições para prefeito.


A hospedagem da Samek na Granja do Torto deve, portanto, ter contribuído para que Lula se inteirasse de mais esta sombra que paira sobre a atual direção de Itaipu, cujos postos-chaves são ocupados por petistas como Samek.


O presidente, portanto, não poderá alegar, com fez em relação à prática do mensalão, que não sabia de nada. Se Samek não tomou a iniciativa de abordar o assunto com o anfitrião, os assessores de Lula certamente o instigaram a cobrar explicações do hóspede ilustre.


Venho exigindo há cinco anos o controle das finanças de Itaipu pelo Tribunal de Contas da União. A hidrelétrica se apega ao tratado assinado com o governo do Paraguai, sócio do empreendimento, para fugir à fiscalização.


Assim, a maior hidrelétrica do mundo, com orçamento anual de US$ 2,5 bilhões, não é fiscalizada por ninguém.


Minha cruzada está produzindo os primeiros frutos. O presidente do TCU, ministro Adylson Motta, e o procurador-geral do Paraguai, Octavio Airaldi, defendem a submissão de Itaipu às duas mais altas cortes de fiscalização de ambos os países. Mas para fiscalizar efetivamente a hidrelétrica é necessário, alegam, o consentimento dos presidentes Lula e Nicanor Duarte.


Lula foi consultado sobre o tema em janeiro pelo ministro Motta, que, por respeito à hierarquia, não comentou com a imprensa a reação do presidente, mas admitiu para Airaldi que ele se mostrou favorável à iniciativa.


“Tra il dire e il fare c’é una distanza di mare” reza um antigo ditado italiano que, na tradução portuguesa, perde a riqueza da rima e fica assim: “Entre o dizer e o fazer há uma distância oceânica”.


Se o presidente assentiu à solicitação do ministro Motta, até agora, pelo menos que se tenha tornado público, nada fez para que Itaipu perca a esdrúxula condição de única empresa pública isenta de prestar contas.


A denúncia de “Veja”, que espero se revele falsa, é a gota d’água no copo das suspeições que recaem sobre a direção da hidrelétrica. Se faltava pretexto (e não faltava!) para Lula determinar a abertura das contas de Itaipu, ele agora o tem, pois é de se imaginar que ele deseje que se dissipe a densa névoa que envolve a reputação de amigo.


Se, no entanto, o presidente retardar a autorização, estará dando pretexto para que se consolide a suspeita.


LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados

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