Feliz salário novo
- Luiz Carlos Hauly
- 3 de mai. de 2005
- 3 min de leitura
LUIZ CARLOS HAULY
Mês de maio, tradicional mês das noivas. Terceiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Terceiro ano consecutivo que maio se consolida também como o mês das viúvas, as viúvas das promessas eleitorais de Lula - os milhões de brasileiros e brasileiras que deveriam estar próximos de receber, aqueles que recebem o salário mínimo, o dobro do que era pago em 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Pois Lula prometeu que “dobraria” o salário mínimo em quatro anos. Falta apenas um ano para encerrar o seu mandato, e cadê esse dobro?
A máquina publicitária do governo tem sido pródiga na tentativa milionária de convencer os milhões de brasileiros e brasileiras que conseguem sobreviver com o salário mínimo que, agora sim, deixaram definitivamente para trás o inferno da penúria e estão na antecâmara do paraíso da opulência, já que seus vencimentos correspondem a mais de cem dólares.
Cem dólares?! Uma fortuna se comparados aos vencimentos - quando os há - de centenas de milhões de africanos e asiáticos, que vivem com o equivalente a um dólar por dia (ou US$ 30 por mês), mas este é um parâmetro que não se adequa à nossa realidade.
Pois esse referencial, em primeiro lugar, está sendo obtido porque a moeda norte-americana está em franco processo de desvalorização internacional, e que se acentua no Brasil entre outros motivos pela baixa demanda do mercado cambial pela moeda norte-americana. Além disso, apesar da magnitude de tais cem dólares, manter uma família com trezentos reais/mês é ato de heroísmo que pode ser interpretado tanto pela óptica de Ulysses como pela de Fellini.
É preciso reconhecer: sim, o salário mínimo teve um ganho real este ano - e os milhões de brasileiros e brasileiros que dele dependem agradecem -, mas o fato consumado é que, neste ponto como também em praticamente todos os demais, a realidade apresentada pelo governo Lula é completamente diversa da prometida pelo então candidato do Partido dos Trabalhadores.
E a realidade, de tão óbvia, já se tornou lugar-comum ao se definir a essência do governo do PT, que é a continuidade da sólida política econômica de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, cercada por todos os lados pelo pântano de um conjunto de ações desencontradas, cujo fracasso persistente o governo busca escamotear com o pomposo aparato publicitário que o serve.
Ou seja, a “herança maldita”, como Lula e o PT definiam a política econômica de Fernando Henrique, é a única benção emanada do governo atual.
O governo entra num momento decisivo para o projeto de reeleição de Lula. Embora o presidente esteja em campanha eleitoral desde o primeiro dia de seu mandato, é a partir do segundo semestre do próximo ano que o esforço pela reeleição tomará definitivamente as ruas e engajará todo o aparato estatal em sua execução. Pois bem, na melhor das hipóteses, o governo Lula tem um ano de sobrevida, e é neste ano que deverá concentrar os esforços se quiser realizar o que prometeu.
Toda a Nação, portanto, espera que nesse ano de sobrevida o governo petista complete a cota de 10 milhões de novos empregos (e falta pouco para isso), erradique de vez a fome endêmica - o Fome Zero, todos sabem, é um fiasco só -, não deixe sequer um brasileiro sem moradia digna (não é preciso comentar), conclua o mais completo programa de reforma agrária do Universo (idem) e, finalmente, proporcione aos que recebem um salário mínimo mensal o dobro - em valores reais e absolutos - do que recebiam do testamenteiro da “herança maldita”. Quanto a isso, no entanto, o próprio Lula não dá muita esperança. Em sua primeira entrevista coletiva desde que assumiu, em 29 de abril, ele afirmou: “Agora, quando se trata de salário mínimo, qualquer que seja o número, ele será baixo, por isso que ele será o mínimo”. Feliz salário novo a milhões de brasileiros e brasileiras.
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