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O “arraiá” da melancolia

  • Foto do escritor: Luiz Carlos Hauly
    Luiz Carlos Hauly
  • 4 de jul. de 2005
  • 3 min de leitura

LUIZ CARLOS HAULY


O excesso de embriaguez causa ressaca e esta, por sua vez, manifestações por todo o corpo, que vão da trivial, embora incômoda, dor de cabeça à prostração física, chegando-se em casos extremos à depressão.


O PT e o governo federal manifestam hoje sintomas semelhantes aos provocados pela ressaca. Era de se esperar – para quem acompanhava o dia-a-dia da política – que mais cedo ou mais tarde esses sintomas viessem a se manifestar, mas foi tão excessiva a embriaguez pelo poder e todas as benesses advindas dele – dinheiro, prestígio, mordomias – que a ressaca levou o partido e o governo à lona faltando ainda um ano e meio para o presidente Lula encerrar regimentalmente a primeira parte do seu mandato, já que ele nunca fez segredo de pretender estendê-lo por oito anos.


O PT está prostrado; o governo, inativo e abúlico, e seu chefe, o presidente da República, dando sinais cada vez mais inequívocos de ter sido nocauteado ainda no início da peleja – a sucessão avassaladora de denúncias escancarada pelo flagrante nos Correios -, embora seu corpo e mente relutem em admitir que estejam exangües.


O “arraiá” da Granja do Torto, promovido sábado (2/7), foi um flagrante eloqüente da melancolia, etapa inicial da depressão, que se dissemina por todo o governo e pelo PT. Ao contrário dos anos anteriores, quando a festa era um dos principais acontecimentos da Nova República Petista, menos da metade dos ministros compareceu, líderes partidários – incluindo-se o PT – não deram as caras e o clima, de acordo com a versão dos participantes recolhida pelos jornais, era mais para velório do que para uma confraternização entre aqueles que compartilham do comando da Nação.


O “arraiá” da melancolia é a conseqüência do comportamento faustoso que o PT impôs ao governo que domina. Para o partido e seus integrantes que assumiram postos de comando na República, a conquista do governo equivaleu a um talonário ilimitado de cheques em branco preenchidos a seu bel prazer. Na concepção deles, Brasília converteu-se em , a bucólica cidade próxima a Paris onde a corte dos últimos soberanos franceses refestelava-se no “savoir vivre”, a arte do ócio e do prazer.


A corte dos Bourbons terminou na guilhotina. A corte dos Dirceu, Genoino, Delúbio & cia. está diante do cadafalso. Conseguirá sobreviver ao julgamento da opinião pública, geralmente mais implacável que o dos juízes e da história? O PT já se autocondenou. A máscara da ética, que vestiu durante toda a sua existência para se credenciar à conquista da Presidência da República, está definitivamente trincada. O disfarce foi arrancado.


O agravamento da crise impõe uma enorme, gigantesca responsabilidade ao presidente Lula, e talvez esta seja a mais importante tarefa a cumprir desde que chegou ao palácio do Planalto: ele precisa salvar o seu mandato, para o bem das instituições.


Não interessa a ninguém, embora a ameaça seja crescente, que o mandato presidencial seja interrompido antes de dezembro de 2006. As conseqüências para a Nação, apesar de vivermos uma democracia consolidada, são imprevisíveis, econômica, política e socialmente.


O presidente precisa concluir o seu mandato. Para isso, tem e terá o apoio da oposição responsável, desde que renuncie à utilização do seu poder – como infelizmente tem feito até agora – para impedir o prosseguimento das investigações. Que ele, em última instância, cumpra pelo menos uma das milhares de promessas que têm caracterizado o seu mandato: que os culpados sejam punidos.


Mais do que nunca, o presidente Lula está sendo instado a demonstrar que está apto a governar para um país – e não apenas para os interesses dos companheiros de partido.


LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados

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