O ato de contrição
- Luiz Carlos Hauly
- 5 de mai. de 2005
- 3 min de leitura
Como brasileiro, não perco o otimismo jamais.
Essa característica inata foi reativada quando se completaram cinco anos da promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Nesse dia, 4 de maio, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, petista histórico que na época era deputado federal - assim como outros oito ministros de Lula - penitenciou-se publicamente pelo fato de o PT ter sido contrário à aprovação dessa lei. Lei que, pela primeira vez na história do Brasil - e me orgulho de ter sido um dos principais articuladores dela -, estabelece critérios e limites de gastos para os ocupantes dos três níveis do Poder Executivo e determina punições a quem os desrespeitar.
O “mea culpa” do ministro Palocci é uma atitude inédita, e por isso surpreendente, de um militante do PT, partido que tem lá suas virtudes, mas entre elas seguramente não pode ser incluída a humildade.
A atitude corajosa do mais influente ministro petista revigora meu otimismo. Essa atitude poderá, quem sabe?, contagiar seus colegas de partido e de ministério e, também por que não?, o chefe máximo da legenda e presidente da República e induzi-los a um ato de contrição coletivo.
Para se obter o perdão é necessário primeiro reconhecer o erro - ou os erros -, condição essencial para que se possa corrigir o rumo, evitando-se, assim, que esse erro (ou erros) se repita. O PT persiste num erro, e este erro motiva os demais. Este erro, pecado capital na religião oficiosamente seguida pelo dignitário máximo do PT e da República, é a arrogância contumaz, uma das manifestações mais perversas do orgulho. Pecado que, segundo as leis cristãs, é punido, caso não seja corrigido a tempo, com o fogo eterno do inferno.
O PT vem sonhando e agindo, antes mesmo da posse de Lula, com sua hipotética reeleição. A soberba, no entanto, tem contagiado com tanta intensidade as ações do governo presidido pelo PT que, apesar de meu otimismo persistente, mal consigo vislumbrar um final honroso para os quatro anos de mandato atribuídos ao presidente.
Para evitar esse desfecho melancólico, Lula e o PT deveriam, em primeiro lugar, convencer-se da propriedade do clássico ensinamento segundo o qual pode-se enganar muitos por muito tempo, mas não todos durante todo o tempo, e, em seguida, penitenciarem-se da soberba que contagia seus atos.
O carisma do presidente é inegável. Nenhum governo, no entanto, consegue se apoiar indefinidamente neste dom de seu chefe. As ações são cruciais para a sua manutenção e continuidade. Por mais carismático que Lula possa ser, sua popularidade está se esgarçando, tanto interna quanto externamente.
Nosso presidente-viajante, tão reverenciado no início de seu governo pela imprensa e organismos internacionais, está se transformando em motivo de deboche devido às suas promessas mirabolantes (Fome Zero, fundo internacional contra a pobreza) e provocando confrontos diplomáticos devido às investidas mal-sucedidas. Investidas que têm como eixo menos a projeção internacional do Brasil e mais o objetivo de fazer de Lula um líder mundial, com a agravante de se apregoar aos quatro ventos essa intenção, para perplexidade de nossos parceiros continentais.
O que ocorre no exterior em relação à imagem do nosso presidente está se cristalizando no interior de nossas fronteiras. Entre o discurso e a realidade há uma distância abissal. Quando Lula e o PT se derem conta da distância que criaram entre o que pensam que são e o que fazem e o que a Nação pensa que são e o que fazem, talvez, enfim, começaremos a ter governo.
Não perco o otimismo jamais!
Luiz Carlos Hauly é deputado federal pelo Paraná e membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
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