O mensalão do caixa 1
- Luiz Carlos Hauly
- 30 de set. de 2005
- 2 min de leitura
LUIZ CARLOS HAULY
Então ficamos assim: o governo passa meses tentando negar a existência do mensalão denunciado pelo agora ex-deputado Roberto Jefferson – denúncia que gerou a mais grave crise política desde a redemocratização, ocorrida há 21 anos – e, numa simples canetada, autoriza a liberação de R$ 500 milhões do Orçamento da União para atender emendas parlamentares e, assim, “azeitar” a eleição do aliado Aldo Rebello para a presidência da Câmara.
Num antigo quadro humorístico da televisão, perplexo diante das divagações do interlocutor ao responder uma pergunta, um ator sentenciava: “Não precisa explicar, eu só queria entender”. A mesma perplexidade aponta agora para o governo do presidente Lula, pois, após tanta peripécia para se negar o mensalão – tão evidente quanto as barbas que emolduram a rósea face presidencial – eis que de repente este procedimento, condenável sob todos os aspectos, é oficializado. E em pleno andamento de três Comissões Parlamentares de Inquérito – Correios, Mensalão e Bingos – que investigam as pilhas de falcatruas acumuladas pelo “ético entre os éticos” governo petista.
Trocando em miúdos, o presidente Lula (pois foi dele que partiu a ordem de liberar os R$ 500 milhões), impedido que estava desde a revelação do mensalão de recorrer ao caixa 2 (aquela montanha de dinheiro “não oficializado” que o governo petista distribuía generosamente aos aliados oportunistas), mandou seus subordinados tirarem recursos do caixa 1 – o Tesouro Nacional – para estimular a candidatura do ex-ministro de Articulação Política ao comando da Câmara!
A exclamação no encerramento da frase anterior é necessária para ressaltar não só uma anomalia política, mas também técnica. Pois, na véspera de abrir os cofres para atender as emendas parlamentares – justas-, diga-se de passagem –, Lula havia vetado 23 dispositivos da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2006, o instrumento que norteia a elaboração do Orçamento da União. Entre os dispositivos vetados estão desde aumentos já autorizados a funcionários públicos (militares, atenção!) a repasses a estados e municípios. O mais grave é a decisão presidencial de mandar às favas a compensação aos estados pela desoneração de exportações, mecanismo previsto na Lei Kandir. Somente este item envolve recursos de R$ 5,7 bilhões (exclamação, de novo).
Toda história – ou estória, dependendo da realidade dos fatos nela narrados – tem tradicionalmente sua moral, enunciada em seu encerramento. A história do mensalão do caixa 1 do presidente Lula ainda não terminou, mas não é preciso esperar seu encerramento para tirar dela uma lição não de moral e, sim, de uma imoralidade tão ululantemente óbvia que dispensa este autor de apresentá-la.
LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados
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