O ocaso de um regime
- Luiz Carlos Hauly
- 18 de abr. de 2006
- 2 min de leitura
LUIZ CARLOS HAULY
O regime socialista cubano é um cadáver insepulto já há varais décadas. A “solenidade” protagonizada domingo (16) por veteranos militantes do Partido Comunista para lembrar os 45 anos da proclamação do “caráter socialista da revolução” não poderia ter sido mais melancólica, pois dela participaram apenas alguns gatos-pingados saudosistas de um passado que prometia um futuro glorioso que jamais se concretizou.
Para tornar ainda mais melancólica a cerimônia – realizada na “esquina 23 e 12”, em Havana, mesmo local em que Fidel Castro proclamou em 16 de abril de 1961 que o governo que ele e seus comandados guerrilheiros barbudos da Sierra Maestra haviam conquistado dois anos antes se pautaria pelos postulados socialistas – ela não contou com a presença do principal protagonista daquele acontecimento: o próprio Fidel.
O motivo da ausência de Fidel não foi explicado pelas fontes oficiais, que tradicionalmente se jactam de divulgar apenas o que julgam de seu interesse e ocultar tudo aquilo que contrariem esse interesse, mas é fácil deduzir que, na iminência de completar 80 anos, com a saúde fragilizada, cada vez menos presente nas cerimônias oficiais, Fidel está nos últimos momentos do ocaso de sua vida.
Fidel perdeu a grande oportunidade de modernizar o regime que instituiu após a dissolução da União Soviética, em 1991, o bloco político-econômico que virtualmente mantinha em pé a economia da pequena Cuba graças à compra subsidiada do açúcar, o principal produto cubano, e à venda, também a preços subsidiados, de petróleo. Além, evidentemente, de uma complexa rede de intercâmbios de todos os níveis.
Com a falência da antiga URSS, Fidel deveria ter desenvolvido um projeto de transição, mas o caráter de seu governo – apoiado no personalismo e na inflexibilidade dos postulados políticos – permitiu apenas que ele concedesse uma liberdade parcial de realização de negócios aos cubanos. Foram, então, criados os “paladares”, pequenos restaurantes particulares e concedeu-se liberdade limitada aos produtores rurais para comercializarem diretamente seus produtos (havia regras sobre produtos e volume de comercialização). E os dólares enviados pelos exilados a seus familiares puderam, enfim, ser movimentados – sem o risco de o comprador ser preso – nas “tiendas” (lojas) destinadas a estrangeiros ou seja lá quem for que apresentasse moeda forte.
Esses avanços, no entanto, foram suspensos por ordem de Fidel, que viu na pequena abertura econômica por ele autorizada um meio de os cubanos se apegarem ao “lucro” e à “corrupção”. A economia cubana está inerme, mais uma vez, sob a rigidez dogmática do condutor do país.
Especular sobre quem será o sucessor de Fidel (seu irmão, Raúl, comandante do Exército, parece tão esclerosado quanto ele) é o que menos importa neste momento. O que importa é saber se o sucessor terá a clemência de iniciar as reformas – política, econômica e administrativa – que Cuba clama com urgência para mitigar o longo e intenso sofrimento de sua população.
LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Relações Exteriores e de Segurança Nacional
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