PAC ou Plunct, Plact, Zummm?
- Luiz Carlos Hauly
- 17 de jan. de 2007
- 3 min de leitura

Cinco, quatro, três, dois... Parem, esperem aí. Onde é que vocês pensam que vão?” A lembrança de “O Carimbador Maluco”, do genial Raul Seixas, é recorrente quando leio ou ouço algo sobre o programa de crescimento econômico que está sendo engendrado pelo Palácio do Planalto sob a sigla, anunciada pelo presidente Lula em sua posse e que se tornou o ponto central de seu discurso, aliás de excelente forma e quase nenhum conteúdo, PAC – Programa de Aceleração da Economia. É a primeira vez que se batiza um plano que ainda não existe, mas tratemos isso como uma manifestação da ansiedade do governo por ver o Brasil nos trilhos da expansão econômica. O programa foi anunciado pelo presidente logo após sua vitória nas urnas e, sucessivas e infindáveis reuniões depois, teve seu lançamento adiado tantas vezes que já perdi a conta. Todos esperavam, inclusive o presidente, que isso ocorresse durante sua posse, dando assim a ela a consistência que não houve, mas não foi possível – faltam muitos detalhes, e são justamente os detalhes que transformam a intenção em realidade. A data anunciada como definitiva é 20 de janeiro e, com base nos antecedentes, arrisco: truco, não será 20 de janeiro! Espero perder esta aposta, embora o que mais importa não seja a data de lançamento do PAC e sim seu conteúdo, que, a julgar pela cobertura da imprensa, está sendo tratado com tanto sigilo que nada vaza de seus detalhes. De duas uma: ou os técnicos do governo agem como o personagem da música de Seixas, “tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado e rotulado”, e isto sob o mais absoluto sigilo, o que é inusual em se tratando de Brasília, a capital mundial do vazamento, ou nada está vazando porque nada há para vazar, tão pouco foi o que se decidiu. Levanto esta segunda hipótese baseado no imobilismo, quase desmantelamento, do governo depois da posse de Lula para seu segundo mandato. A maioria dos ministros seguiu o exemplo do chefe e tirou férias. Assim, enquanto o País aguarda com expectativa o tal programa de aceleração da economia, a cúpula do governo se entrega ao dolce far niente (doce fazer nada). E já que invocamos os italianos, espero que depois das férias o presidente e seus ministros não dêem vazão a outra regra do folclore peninsular, dopo far niente, riposare. Depois de nada fazer, o descanso. O Brasil necessita, e com urgência, de um projeto de crescimento. Nosso Produto Interno Bruto cresceu menos de 3% o ano passado (os números ainda não foram fechados) – o menor da América Latina, na frente apenas do miserável Haiti - e o governo projeta uma expansão este ano de 5%, embora todos os especialistas afirmem que, se tudo correr bem, alcançaremos 4% no máximo. Já é alguma coisa, e isto será obtido em grande parte devido ao Supersimples, que desonera as micro e pequenas empresas, tornando-as mais eficientes e produtivas e, assim, injetando mais dinheiro no mercado. O governo quer, eureca! destravar a economia, ótimo, então por que não começa por destravar a si próprio e trazer à tona o projeto de crescimento que o Brasil requer para se reinserir entre as economias pujantes e com isso proporcionar perspectivas de ascensão social que sua gente já não possui? O PAC vem aí e dele esperamos tudo, menos que se apresente como um plágio grosseiro do roqueiro baiano: “O seu Plunct, Plact, Zummm Não vai a lugar nenhum”. LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados e relator do Supersimples
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