Pegar Pesado ou não
- Alberto Bombig
- 9 de nov. de 2010
- 4 min de leitura
Divididos entre a linha “dura” de Serra e a “construtiva” de Aécio, os tucanos iniciam as discussões sobre como agir com o futuro governo Dilma
A apuração nem havia terminado em todo o Brasil no domingo passado quando o PSDB, o principal partido de oposição ao governo federal, iniciou publicamente a lavagem da roupa suja da campanha eleitoral. Parte dos tucanos se reuniu em São Paulo, ao redor do candidato derrotado nas urnas, José Serra, para endossar sua afirmação de que “uma luta de verdade” estava “apenas começando”. Os tucanos versados em discursos de Serra viram na declaração a disposição de fazer uma oposição ferrenha ao novo governo. Momentos antes, em Brasília, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), acabara de estender a mão aos adversários e propor um cessar-fogo político em nome da unidade nacional.
Dois caminhos acabavam de se delinear para o futuro do PSDB e de seus aliados, como o DEM e o PPS. Aceitar a trégua proposta ou fazer oposição ferrenha, como Serra? Desde então, o partido vem se consumindo nesta questão que engendra outra: quem conduzirá os tucanos daqui até a sucessão de Dilma em 2014? Se não embarcar na proposta de Serra, o partido deverá seguir na esteira do senador eleito Aécio Neves (MG) ou do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos reticentes em jogar o PSDB no campo da oposição sistemática a Dilma (leia o quadro abaixo).
Ao concluir seu pronunciamento e agradecer os 44 milhões de votos recebidos no domingo passado, Serra leu uma extensa lista de agradecimentos, mas Aécio não foi citado. Novamente os especialistas em Serra – e eles eram muitos na plateia e no palanque principal – foram rápidos em explicar o significado do “lapso”. O candidato derrotado estava magoado com Aécio por conta da vitória folgada que Dilma impôs a ele em Minas Gerais, com quase 20 pontos porcentuais acima do tucano. Serra acha que faltou a Aécio empenho em ajudá-lo. O motivo é simples. Consumado o fracasso da segunda candidatura de Serra ao Planalto, Aécio passou automaticamente a ser o nome mais forte dos tucanos para 2014.
Aécio, de fato, sempre transitou com desenvoltura em hostes petistas. Enquanto foi governador de Minas, entre 2003 e 2010, ele manteve diálogo permanente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sempre defendeu uma atitude mais conciliatória em relação ao governo federal. É essa postura que Aécio planeja manter sob Dilma, algo que ele próprio definiu como uma “oposição generosa”. Os oito governadores eleitos do PSDB deverão seguir postura semelhante, com divergências conforme a pauta proposta por Dilma.
Afora a histórica dependência financeira da União, alguns Estados têm convergências pontuais de interesse com Dilma, como a volta da CPMF, o imposto do cheque. O governador de Minas, Antonio Anastasia, já declarou ser a favor da volta do tributo. O governador eleito do Paraná, Beto Richa, outro moderado, anunciou ser contra. Homem da confiança de Alckmin, o deputado federal Edson Aparecido (SP) resume um pouco a opinião do governador eleito de São Paulo: “Temos de cumprir um papel de oposição, mas sem virar as costas para os interesses do Brasil. Podemos, por exemplo, propor um pacto com o governo para a aprovação de uma reforma política”. Correligionário de Richa, o deputado federal Luiz Carlos Hauly (PR) segue linha semelhante: “É oportuna a posição do Aécio. Mas não esqueceremos os escândalos do PT nem compactuaremos com impostos”.
Para o grupo formado ao redor de Serra na campanha, o preço de uma postura branda contra Dilma será novamente sentido nas urnas daqui a quatro anos. Na opinião dessa corrente, a segunda derrota de Serra ocorreu em larga medida porque o PSDB foi leniente na oposição a Lula e fraco na defesa do legado do governo Fernando Henrique Cardoso. FHC disse que não seguirá com o partido se não houver a defesa enfática de sua gestão.
Disposto a se manter na cena, Serra começou a articular a escolha do líder do PSDB na Câmara. Apesar de a frase de FHC revelar certo ressentimento com Serra, que pouco defendeu o governo do ex-presidente durante a campanha, ambos integram o grupo dos “falcões”, assim batizados por defenderem uma oposição dura a Dilma. O debate sobre a maneira de o partido se comportar na oposição servirá de cenário para duas disputas já deflagradas internamente no PSDB. Até o início da próxima legislatura, em fevereiro, os tucanos vão escolher o líder de sua bancada na Câmara dos Deputados. A disputa mapeará a divisão de forças no partido, e o escolhido dará o tom da oposição que os tucanos pretendem fazer a Dilma no Congresso Nacional. Para a surpresa dos que imaginavam a aposentadoria de Serra diante do novo revés, ele delegou ao deputado federal Jutahy Magalhães (BA), seu amigo leal, a missão de articular a indicação do novo líder. A preferência de Serra recai sobre os deputados Zenaldo Coutinho (PA) ou Leonardo Vilela (GO). Aécio e Alckmin preferem Duarte Nogueira (SP) ou Bruno Araújo (PE).
A outra disputa será em torno da presidência nacional do PSDB. O mandato do senador e deputado eleito Sérgio Guerra (PE), considerado um “moderado”, terminará em maio. Uma das hipóteses em discussão no PSDB é que Serra venha a ocupar esse posto. Mas a ideia encontra fortes resistências nos setores ligados a Aécio e ao próprio Alckmin. Por ora, Guerra seguirá se equilibrando entre “construtivos” e “falcões”. “Nunca fomos e não seremos a favor do quanto pior melhor”, diz ele. É o PSDB novamente com um pé em cada caminho da encruzilhada.
Por Alberto Bombig
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